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BEATO PADRE LUÍS CABURLOTTO

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 Na estação das flores, no dia 07 de junho de 1817 o gondoleiro Ângelo Caburlotto e sua esposa Elena Giove, ouviram o choro vigoroso de seu sétimo filho preencher os espaços da residência simples daquele casal de trabalhadores que serviam como funcionários da mesma família da nobreza veneziana. Deram ao menino o nome de Ludovico Gasparo Maria Paolo Caburlotto, mas logo o pequeno ganhou um diminuto apelido – Luís (Luigi, em italiano). Influenciado por sua devotíssima mãe, o pequeno Luís cresceu orientado na fé católica desde menino, frequentou a escola pública gratuita e obrigatória nos primeiros anos de vida escolar, mas, ao chegar aos doze anos, os pais precisariam pagar pelos estudos do filho. O auxílio chegou pela bondade de um professor que o inscreveu numa Escola de Caridade administrada por dois irmãos sacerdotes – Anton’Ângelo e Marcantonio Cavanis, experiência que fortaleceu a fé católica no coração do adolescente, que mesmo repetindo o primeiro ano, foi demonstrando ser ótimo aluno nas aulas de matemática e de religião, além de ser convidado, por conta de sua sincera devoção, como orador para importantes festas religiosas da Escola.

 

Luís sentia vivamente o chamado de Deus para a vocação sacerdotal. Nem mesmo os parcos recursos da família que o obrigavam a frequentar o seminário como aluno externo o impediram de seguir em frente. Além da pobreza da família, o jovem Caburlotto foi acometido de sérios problemas cardíacos (que fragilizaram sua saúde por toda a vida), tanto que pedia a intercessão de Nossa Senhora para que pudesse ser ordenado presbítero e celebrar ao menos uma missa antes de morrer! Com tão celeste auxílio, ele pode fazer mais. Muito mais!

 

Por um ano, após sua ordenação, Padre Luís atuou na Paróquia de São Pantaleão, mas assumiu poucas tarefas devido à sua debilitada saúde. Porém, em fins de 1843, ainda sem estar plenamente recuperado, foi nomeado coadjutor na Paróquia de San Giacomo Dall’Orio, onde assumiu a maior parte das funções devido à idade avançada do pároco Padre Vicente Gallo. Ninguém desejava ajudar como sacerdote em San Giacomo, uma paróquia com uma realidade social na qual a miséria grassava impiedosamente e, para piorar as coisas, um padre inspetor dos abrigos infantis da região envolveu-se em escândalos muito graves. Como se vê, o desafio para o padre Luís Caburlotto, que nem dois anos de sacerdócio havia completado, era muito maior do que sua complicada saúde e sua delicada situação econômica. Ele se viu impelido a cuidar do povo vitimado pela miséria e a ter que resgatar nos fiéis a confiança no próprio ministério sacerdotal e na pessoa de um padre. Não fora por acaso que ele havia sido convocado para essa imensa tarefa: seu caráter e a seriedade com que vivia seu sacerdócio eram a garantia de que ele seria a pessoa certa para tão difícil momento – ali ele serviria seis anos como coadjutor e vinte e três anos como pároco.

 

Após ir para San Giacomo, num curto prazo de cinco anos, o Padre Luís presenciou a revolta veneziana contra o Império Austríaco e a proclamação da República de Veneza, a invasão da cidade pelas tropas da Áustria, uma epidemia de cólera e o aumento de crianças órfãs abandonadas pelas ruas. Seu coração inquieto não se conformava ao ver a infância e a juventude veneziana entregue aos perigos das ruas, aos vícios, aos maus costumes, à miséria moral, à negação de um futuro que lhes fosse digno. Ousado, decidiu comprar uma casa ao lado da paróquia para fundar uma escola de caridade. Ao saber do motivo para a compra, o proprietário cedeu-lhe a casa gratuitamente. O padre convidou, então, duas de suas catequistas para acompanhá-lo na ousadia e para dedicarem-se a cuidar das meninas, tirando-as das ruas. Assim, ele confiou duplamente no protagonismo da mulher – tanto no que se referia às catequistas, quanto no que se referia à certeza de que as meninas, ao serem afastadas da miséria e educadas adequadamente, construiriam um futuro promissor, sendo boas cidadãs e futuras mães de famílias. Seu clássico lema: “Se salvardes uma jovem, salvareis uma família inteira!”, tornou-se realidade, pois salvou da miséria moral e econômica, dos maus costumes e dos maus tratos, centenas de meninas, salvando futuras famílias e ajudando a salvar o futuro da própria cidade.

 

Em 30 de abril de 1850, as catequistas leigas Samaritana Sejana e Beatrice Voinier iniciam os trabalhos da Escola de Caridade, semente da congregação religiosa feminina que levaria adiante o carisma educativo do Padre Luís Caburlotto: outras jovens juntaram-se às pioneiras, dentre elas Maria Vendramin, filha da nobreza, que trouxe recursos econômicos para a nascente congregação, ajudando a ampliar os trabalhos de promoção humana que haviam iniciado. Para a congregação que sonhara, o Caburlotto dá o nome de Instituto das Filhas de São José e pede para as religiosas se espelharem em São José que educava com infinito amor o próprio filho de Deus na humilde casa de Nazaré.

 

Em 1853, a Comissão de Beneficência Pública convocou o Padre Luís e lhe informou que desejavam fundar uma instituição pública que agregasse as meninas espalhadas em várias casas de caridade com diferentes direções e interesses. Desse modo, o Padre Luís e as Filhas de São José assumiram a direção do Instituto Manin Feminino – mantido com recursos da nobre e abastada família Manin. Outras casas são fundadas e administradas pelo Caburlotto e as religiosas, não sem enfrentarem dificuldades financeiras e a perseguição de prefeituras contrárias à Igreja. No entanto, o pároco de San Giacomo foi convocado a assumir também a direção do Instituto Manin Masculino, onde os rapazes recebiam educação e instrução para o desempenho de diferentes trabalhos artesanais, capacitando-os a se inserirem na sociedade de Veneza como excelentes e requisitados profissionais. Mas nem tudo é tão simples, no processo para assumir definitivamente a direção de uma instituição pública de um governo anticlerical, é incompreendido tanto por seus irmãos sacerdotes e pelo bispo, quanto por muitos dos membros do governo que viam com desconfiança deixar a direção do mais importante instituto de artes e ofícios de Veneza nas mãos de um padre.

 

Com dor no coração, com a humildade que lhe era característica, cônscio da eficaz contribuição que podia dedicar na reorganização do Instituto Manin, pensando unicamente no bem dos rapazes da instituição, o Caburlotto, aos 55 anos, se afastou da paróquia de San Giacomo e se dedicou ao Instituto Manin. Por ainda mais um quarto de século, em uma vida dedicada a salvar as crianças e jovens vitimados pela miséria e pela exploração por meio de orientações pedagógicas avançadas para a época, em orientar as religiosas do Instituto das Filhas de São José como herdeiras do dom educativo que recebeu do Santo Espírito de Deus, em organizar casas de caridade, padecendo desafios de diversos matizes – econômicos, políticos, doenças, perseguições, calúnias, incompreensões – o Caburlotto viveu sua páscoa em 09 de julho de 1897.

 

Luís Caburlotto foi homem de profunda vida de oração e ativa vida apostólica e pastoral, no dizer do Papa Francisco: “educador eminente dos jovens, apóstolo incansável da caridade evangélica e mestre fiel da doutrina cristã”, reconhecido como Beato pela Igreja, tem muito a nos inspirar através da peculiaridade do carisma educativo que recebeu do Espírito Santo – o amor pela Casa de Nazaré, pelo mistério da encarnação, pela contemplação do presépio, pela docilidade, mesmo em meio às mais difíceis provações. Neste momento da história em que somos convidados a viver vigorosamente a misericórdia e a ser Igreja em saída rumo às periferias existenciais, mesmo com o risco de sofrer e se machucar, é luminoso o exemplo do Caburlotto que visitou as periferias da existência no curto caminho entre sua casa e a paróquia que administrava. Talvez não precisamos ir longe dos nossos caminhos cotidianos para estar com aqueles que estão nas periferias da existência, para dar-lhes uma resposta terna e vigorosa, assim como as deu o Beato Padre Luís, ouvindo dele: “Lembrai-vos de imitar Jesus Cristo não tendo outro olhar senão o da sua misericórdia”.

UM POUCO DO CARISMA EM CINCO FRASES DO BEATO

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Doçura, doçura, doçura, com a doçura se fazem os santos.

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Educar é arte do coração e de renúncia pessoal.

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Os educandos estão acima de todos os meus pensamentos e de todos os meus afetos.

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Somente a caridade e a doçura conquistam o coração e o persuadem ao bem.

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O Amor arde de verdade se for alimentado pelas ações não pelas palavras.

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